Embora não exista nenhum registo escrito da primeira vez que alguém tentou descer uma onda, é comummente aceite que o surf teve a sua génese no Pacifico Sul há mais de quatro mil anos. Encarado como um passatempo casual, o surf antigo practicava-se deitado ou de joelhos sobre qualquer objecto flutuante. Só por volta do ano 1000 é que os surfistas no arquipélago polinésio do Havai aperfeiçoaram a arte de deslizar de pé sobre as ondas.
O Ocidente tomou conhecimento do surf em 1779 através dos textos do tenente James King, um elemento da expedição britãnica liderada pelo comandante James Cook que desembarcara nas ilhas um ano antes. O seu relato, a mais antiga descrição escrita que se conhece do surf, pintava o quadro de uma diversão exótica que os nativos muito apreciavam. A chegada dos europeus pôs em evidência a localização priviligiada do Havai como entreposto comercial. Todavia, os cristãos calvinistas que chegaram de Inglaterra em 1821 desaprovaram muitas tradições da população nativa, em especial aquelas em que o corpo não estava coberto. Assim, o desporto e a maioria das reminiscências da tradição cultural havaiana practicamente desapareceram durante o resto do século XIX. No espaço de apenas alguns anos, só a determinação de alguns practicantes nativos e o interesse de turistas impediam que o desporto desaparecesse para sempre.
A viragem para o século XX traz consigo a anexação das ilhas havaianas pelos Estados Unidos. O transporte da métropole para o arquipélago é alvo de melhorias e surgiram revistas promocionais como a Paradise of the Pacific, que contou inúmeras edições. Os retratos da vida insular, incluindo imagens do surf, eram essenciais para atrair os turistas. Todavia, a ressureição da cultura do surf só veio a acontecer com o aparecimento de duas importantes personalidades: George Freeth, que levou o surf para a métropole, e Duke Kahanamoku, considerado o pai do surf moderno. Freeth fazia parte de um grupo de "malta de praia" que se reunia para practicar o desporto na praia de Waikiki. Em 1907, foi apresentado ao famoso escritor norte-americano Jack london, que escreveu um artigo na revista Woman´s Home Companion impressionado com as proezas de Freeth nas ondas. Freeth ganhou alguma fama e rumou á Califórnia do Sul, onde foi trabalhar como salva-vidas. Nas ondas da praia de Venice, Freeth demonstrava os seus dotes de surfista. Pouco tempo depois, começou a trabalhar no empreendimento imobiliário que Henry Huntington estava a desenvolver em Redondo Beach. Freeth era apresentado como o "homem que conseguia andar sobre a água".
Se Freeth levou o surf para a metrópole, Duke Kahanamoku levou-o ao mundo inteiro.
Havaiano nativo e atleta com excepcional vocação para os desportos aquáticos, Kahanamoku também era ajudante na praia de Waikiki e colaborou na fundação do clube de surf Hui Nalu (clube das ondas) em 1905. Na sua juventude, bateu vários recordes mundiais de natação e, em 1912, viajou para os jogos olimpicos de Estecolmo integrado na equipe de natação norte-americana. A caminho fez sensação com as demonstrações de surf em Santa Mónica e em Corona del Mar na Califórnia. As várias medalhas de ouro que conquistou nas olimpiadas consolidaram o seu estatuto de embaixador não oficial do Havai. Alguns anos volvidos desde o inicio do século, as referências visuais associadas ao surf deixaram de ser utilizadas apenas em material promocional das ilhas. As celebridades posavam para os fotógrafos na praia de Waikiki. Os editores de revistas norte-americanas davam destaque a surfistas nas capas das respectivas publicações e as lembranças do Havai estavam repletas de motivos ligados ao surf.
À medida que o surf se ia tornando cada vez mais conhecido, a Califórnia tornou-se outro local de eleição para o desenvolvimento do desporto. Em 1928, Tom Blake, oriundo de Wisconsin, ajudou a organizar o primeiro Campeonato de Surf da Costa do Pacifico em Corona del Mar, que ganhou com uma prancha oca que ele próprio tinha feito. Vários grupos de jovens atletas desenvolviam um estilo de surf casual, desenhavam as suas próprias pranchas e adoptavam uma postura descontraida. Embora os surfistas dos anos 30 e 40 não fossem atreitos ao protagonismo, era frequente a imprensa retratá-los como atletas dissidentes. Os fotógrafos de surf, tais como John "Doc" Ball, captaram estes primeiros anos do desporto na Califórnia, revelando uma forma de vida que viria a ser copiada durante muitos e longos anos.
As inovações tecnológicas introduzidas após a 2ª Guerra Mundial transformaram por completo a prancha de surf, tendo as pesadas placas de madeira de sequóia dado lugar a plataformas aerodinâmicas. Os surfistas mudavam a forma, o peso e a manobralidade da prancha, mas a grande revolução ao nivel do design das pranchas registou-se com a introdução de materiais leves como a madeira balsa, a resina e a fibra de vidro. O desporto tornava-se mais acessivel e popular. Os surfistas eram considerados como "free spirits" e as imagens criadas pelos meios de comunicação no pós -guerra contribuiram para o surf deixar de ser visto como um desporto e passar a ser encarado como um estilo de vida.
A democratização do transporte aéreo para o Havai no final da década de 50 abre as portas ao turismo de massas. Do outro lado do Pacifico, a Austrália começa a estabelecer-se como terceiro centro mundial do surf, quando foram introduzidas as pranchas leves de balsa em 1956. A estreia do filme Gidget, uma versão fabricada por Hollywood das experiências de surf de uma rapariga de 16 anos na praia de Malibu, fez ondas no mundo do cinema, mudando a imagem do desporto. Á medida que a Califórnia se afirmava como a meca da cultura juvenil no final dos anos 50, o surf inundou o mundo de entertenimento, desde os mega êxitos dos Beach Boys aos filmes rodados na praia com Annette Funicello e Frankie Avalon.
As imagens dos surfistas apareciam em anúncios e capas de albúns. As pranchas e os calções de surf começaram a ser fabricados para o mercado das massas. Tanto os lucros como as praias sobrelotadas decorrentes da recente popularidade do surf desagradaram a muitos surfistas mais ortodoxos. No final dos anos 60, as competições patrocinadas por grandes empresas e as drogas contribuiram para manchar ainda mais um desporto que havia perdido a inocência. Outros desportos nascidos do surf, como o windsurf, o snowboard e o skate, desenvolveram as suas próprias subculturas divergentes, com as suas próprias tendências, giria e referências gráficas. Na década de 80, os grandes contratos de patrocinio oferecidos aos atletas e um mercado de vestuário casual em franca expansão,, que em breve seria dominado pelo surfwear, tornaram o desporto ainda mais comercial.
Apesar do conflito entre o espirito comercial e a demanda individual da onda, o surf continua a inspirar uma legião global de praticantes e admiradores. Atraido pelo misticismo de um estilo de vida alternativo e de um verão sem fim, pelo fascinio da onda e das imagens que ela inspira, o surfista continua a ser um dos simbolos universais da liberdade pessoal
ALOHA